É muito fácil interligar os três
conceitos (jogador de setas compulsivo, motard das concentrações e patego ilustre),
porém, apesar daquilo que se possa pensar, não estão necessariamente e
inevitavelmente contíguos.
Normalmente, as raparigas
afastavam-se de mim quando dizia que tinha jogo de setas, mas o pior era quando elas
me acompanhavam aos referidos jogos. A partir daí começavam a dar desculpas para
não me acompanharem e até me largarem era um ápice. Seria porque ficavam ali
largadas num bar, vulneráveis aos olhares de cabreiros de testa branca e com ar de
lobo mau à espera da oportunidade de mandar uma boca mais foleira que a sua
indumentária? Será porque o bar se enchia de pacóvios vindos da Labregueira da
Serra, em que o acontecimento mais importante que acontecia ao fim-de-semana era este tipo de confrontos de duas em duas semanas? Não sei, as dúvidas
consumiam-me e as certezas escasseavam na minha cabeça!
Muitas raparigas, apesar de o
tentarem esconder, também mostravam alguma repulsa pelo facto de eu ser motard.
De início gostavam bastante da minha pose máscula de motard que suportava um
imponente capacete. Deliciavam-se com a expetoração que conseguia fazer chegar à
boca (enquanto apertava uma narina e tinha o cotovelo do braço contrário
encostado ao balcão) e com a cuspidela que se seguia para o chão, todavia a
partir daí começavam a mostrar sinais de afastamento da minha pessoa. Seria porque a moto possuía uma cilindrada não superior a 50cc, que contradizia a
categoria insinuada pelo capacete? Seria porque depois não conseguia manter o
nível de parvalhice que induzia à primeira vista?
Houve um dia em que acordei,
pensei de mim para mim, espera lá aí, isto tem que acabar, eu vou mudar de vida
e vou arranjar alguém a quem entregar o meu coração. E foi nesse dia que
descobri uma mina de ouro no que ao amor diz respeito. Um local onde pude ir
buscar uma mulher com quem possa ultrapassar os obstáculos da vida, uma mulher
com “P” grande! E lá consegui, dirigi-me ao local encantado e seduzi uma
senhora bastante experiente, foi amor à quarta vista, depois de cem euros, ela
percebeu que eu era o amor da sua vida. Vivemos 12 dias de intenso amor, até
que aquele traidor, a que um dia chamei amigo, roubar-ma sem escrúpulos nem
compaixão! Se ela me abandonou, foi sinal de Deus e foi porque não me merecia.
Levei três semanas a digerir a rejeição. Voltei à mina de ouro e já existia lá
outra fornada de senhoras. E não tardei a encontrar uma outra mulher da, minha,
vida. Esta é uma mulher com um “P” tão grande como a primeira, mas está comigo
até hoje, já passaram muitos meses e ela ainda consegue aguentar-me… Estou
eternamente apaixonado e nada nem ninguém me conseguirá afastar dela. Amo-te
Dulcinete!
Sou jogador de setas compulsivo e ilustre motard, mas não
sou patego!
WW